segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Vivendo atrás das linhas inimigas.

Na semana que nasceu o Léo, e foi uma baita correria de idas e vindas, porém, a preocupação que não me deixava dormir serviu para colocar a leitura em dia e lí coisas bem interessantes, como um velho livro chamado "stronghold" e "O Cerco", o que me levou a uma velha apostila de história e estratégias militares.
O que nos leva ao tema de hoje, que é sobreviver sob cerco, ou sitiado em um bunker.


Quando eu falo sitiado não estou me referindo a um monte de gente armada estacionada fora dos perímetros esperando pra lutar com quem esta dentro, penso em perigos no geral, como um meio ambiente hostil, locais contaminados, agentes biológicos ou qualquer outro risco, como um distúrbio civil que deixariam as ruas um inferno ou até uma guerra,  enfim, quaisquer circunstâncias que exijam que o sobrevivencialista esteja em cheque, fechado na segurança de seu abrigo preparado.
 Não tem como não viajar no tempo para a época dos grandes castelos medievais, soberanos sobre vilas e cidadelas, preparados para resistir por muito tempo ao assédio inimigo ou simplesmente vender muito caro sua posição.
Mais que uma posição defensiva, o grande problema que existia na época para os que tentavam conquistar uma área protegida por um castelo era a projeção de poder, se um castelo fosse simplesmente ignorado, tinha recursos para despejar uma força considerável de homens armados e bem alimentados atrás das linhas inimigas e assim romper linhas de abastecimento e logística ou simplesmente engrossar fileiras e servir como uma bigorna, esmagando os invasores contra o malho de uma força opositora que barrem seu caminho.
Castelos tinham que cair.

Os tempos mudaram, a ciência e o desenvolvimento afetaram drasticamente a forma que os humanos fazem guerra, se protegem ou traçam suas estratégias de sobrevivência, porém, mesmo nos exércitos mais poderosos e tecnológicos os castelos perduram, hoje são chamados de quartéis e bases militares, muitos ainda mantém grossas muralhas e abusam do aço e concreto, outros são abertos, amplos, defendidos por muitas mãos e armas e o mais terrível tipo de castelo é aquele que afunda nas entranhas da terra ou simplesmente "não existem", bases secretas cheias de segredos.

Algum esforço deve ser feito para que certas preparações sejam descobertas e vencidas e centenas de possibilidades analisadas, a maior verdade é que não existem fortalezas inexpugnáveis, TODAS podem ser vencidas, o problema é a força necessária para isso, algumas caem com uma marreta e talhadeiras, outras precisam de um pequeno exército e para algumas são necessárias algumas ogivas nucleares nos lugares certos ou um terremoto de partir a terra ao meio.

Vamos agora pensar um pouco, vamos falar do sobrevivencialista tipicamente urbano que é especialista neste ambiente, sim meus caros, o nativo das grandes urbes também se adapta aquele sistema a ponto de perceber suas nuances, tal como o caboclo da roça que anda no mato instintivamente evitando seus perigos e reconhecendo os recursos de seu ambiente, o morador das metrópoles anda pelas ruas de seu meio distinguindo e avaliando centenas de possibilidades instintivamente. Basta pegar uma pessoa que viveu a vida toda num sitio cheio de horizontes verdes e soltar no meio da Av. Paulista na hora do Rush, diga a ele: "Você tem de chegar a São Bernardo do Campo em 1 Hora". O caboclo vai estranhar o ar, o cheiro, vai se sentir pequeno perto dos arranha céus, vai entrar em ruas e becos que são evitados pela maioria dos locais e talvez até peça informações pra se orientar na cracolândia. Certamente vai falar demais, porque na cidadezinha dele todos se conhecem e isso cria um "escudo", não que só existam pessoas boas no interior, mas um marginal não vai simplesmente furtar o cara que é primo do marido da tia, ou que é compadre do pai, logo o caipira fala demais, achando que ali pelo menos uma pessoa conhece alguém que conhece o cidadão...

Um sobrevivencialista exclusivamente urbano com uma boa preparação pode criar uma base muito forte na cidade, capaz de resistir a muito castigo. A grande facilidade de se contratar serviços, pesquisar preços e obter recursos baratos, equipamentos e tecnologias pode formar um castelo urbano secreto e repleto de recursos.

Não precisa ser um especialista para entender as fragilidades das metrópoles, um comum acidente de caro pode gerar quilômetros de congestionamentos e tornar a existência do vivente um inferno de buzinas, cansaço e stress, o que dizer de um evento mais abrangente, como um atentado, uma guerra ou bombardeio inimigo que quebre a infra estrutura básica, que já não é das melhores. Um bom exemplo disso, e Paulistas saberão, são os meses de janeiro/fevereiro, época das chuvas. Um evento maior geraria um caos sem precedentes nos grandes centros, e podemos falar de evacuação em massa, milhares de mortes, uma escalada de violência sem precedentes entre outros. Assim que o impacto inicial deste evento varresse como uma onda as cidades como conhecemos hoje e presumindo que o sobrevivencialista estivesse na segurança de sua estrutura preparada, sua base seria como uma ilha num mar de tubarões e ele estaria literalmente atrás das linhas inimigas como um castelo medieval negligenciado pelos invasores.


A sobrevivência está em sair ileso do golpe inicial, depois inicia-se o processo de subsistência que dependendo dos recursos preparados na base pode ser mais ou menos difícil, isso sem contar todos os perigos externos.
Viver no interior tem vantagens e desvantagens, entre as vantagens as principais são que o golpe do martelo tende a ser menor e as chances de sobreviver a um grande evento são maiores, depois vem a questão de sustentabilidade, é mais fácil conseguir agua, lenha e até comida já que é uma área tipicamente produtora por outro lado, o governo ou poder vigente vai se focalizar em restabelecer seus grandes centros onde milhões de pessoas estão e certamente todos os recursos serão direcionados. O que há de mecanismos de socorro, energia e abastecimento será desviado e é bem possível que a médio e longo prazo, na reconstrução da estrutura, a pequena cidade do interior com 12 000 habitantes estará a própria sorte e até negligenciada ou saqueada por meios oficiais em prol da maioria. Basta ponderar de onde virá a agua tratada que abastecerá a metrópole ou para onde serão encaminhados os excedentes de doentes, feridos e estropiados. Trocando em miúdos e sendo sincero sobre todas as limitações estruturais básicas das pequenas cidades, é bem possível que a época de privações nestas localidades durem mais tempo.

Sim meus queridos, eu quero realmente fazê-los pensar e extrapolar o básico das garrafas cheias de grãos, facas e filtros de agua, armas e roupas camufladas, a essência da sobrevivência urbana pode ser um cenário crítico, perigoso mas ainda assim estudado e planejado e um castelo secreto num bairro qualquer das metrópoles pode valer mais que uma famosa e ampla fazenda cheia de recursos. O mesmo sol que ilumina a braquiara, esquenta os telhados e lajes de concreto das cidades grandes.

Será que se a merda bater no ventilador, não estaremos todos, caipiras e urbanos vivendo atrás das linhas inimigas?

Abraços.

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